Péssimo aluno que sempre fui, o remédio era chegar ali perto dela para tentar alguma redenção. Minha mãe era guerreira e lavava nossa roupa no velho tanque do muro lá de casa.
Minha sorte foi sempre gostar da leitura, lia da bula de remédio a bíblia que sempre foi presente em nossa casa.
Era voraz, hábito que o tempo não varreu de mim.
Como a bronca estava grande, recorri a bíblia e cheguei perto da mãe Adventista tentando colher algum perdão pelas notas medíocres que tinham aparecido no meu boletim, invariavelmente vermelho.
Recorri a um dos milagres de Jesus, citado em Mateus 8:1-4, Marcos 1:40-45 e Lucas 5:12-16[1].
De acordo com o relato nos evangelhos, quando Jesus voltou das montanhas, uma grande multidão passou a segui-lo. Um homem, acometido de lepra, veio e se ajoelhou defronte a ele dizendo: “Senhor, se quiseres, bem podes tornar-me limpo.”
Achei que leproso bem sonoro, era um nome legal, soava bonito, embora eu não fizesse a menor ideia do que significava
Pronto, estava salvo. Um versículo bom desses era certeza do perdão. Enchi o peito, já com voz de quem queria ser locutor emendei sem perdão: “Mãe agora eu sou “Carlos O Leproso”.
Só consegui abrir os olhos 5 minutos depois entre o zumbido da mãozada no ouvido que passou por cima dos olhos. Nem entendi porque. Um nome tão bonito?
Lá em casa a vara da infância era subjetiva. Ou palmatória, cinturão, por vezes na mão grande mesmo. Meu pai, comunicado da sandice ainda me deu umas 3 lapadas boas. Acho que daí a expressão “foi aí que fui dormir de couro quente” deve ter nascido.
Lá em casa faltava tudo, menos alimento e amor. Mas a regra era clara: “Escreveu, não leu, o pau comeu”, meu pai era a regra.
Menino passar na frente de adulto conversando”? Esqueça! Se intrometer em conversa de adulto? Impossível!
Me lembro de uma vez onde ele conversava com o vizinho e o “Rambo” aqui decidiu passar no meio rastejando como aqueles soldados de filme de guerra. Só senti o pisão que ficou em cima de mim por 20 minutos até que a conversa acabasse.
Hoje me divirto com essas histórias, mas confesso que mesmo naquele tempo, quando passava a dor, dava risada das loucuras.
O ambiente da minha casa era mágico e só ficava meio triste porque achava que os meus irmãos eram melhores do que eu.
Depois descobri que estava certo e eram mesmo. Ainda são. Aceitei de bom grado.
Sempre tive a sorte de enxergar o copo meio cheio, o melhor da vida. Acreditar que tudo tem um propósito e o caminho é acreditar que vai melhorar.
Hoje vi um texto de alguém pedindo o presente certo para Papai Noel. Dizia que ano passado o bom velhinho trocou tudo. Ao invés da carteira gorda e do corpo magro ofereceu a carteira magra e o corpo gordo. Adoro bom humor e a alegria da gente bem-humorada.
É certo que está chegando o Natal e as festas de fim de ano. Vamos fazer as mesmas promessas de mudar de hábito, emagrecer, estudar mais e mudar de vida.
Não vamos cumprir nada. Vamos ser gordos, tomar cerveja pra caramba, comer porcaria e sorrir horrores pois a gente só morre uma vez, mais vive todo dia. Ainda bem!
Carlos Britto
Ri muito!
Essa do “Carlos, o leproso” foi demais e a outra de passar rastejando por entre dois adultos. Risos…
Muito bem, amigo locutor! O vosso relato sublimou os valores contidos nas palavras de amor à família e respeito pelas diferenças, alheias a nossa vontade.
Felizes Nascimentos!