Se estivesse viva, Ana das Carrancas completaria hoje, 18 de fevereiro, 91 anos de idade. Pernambucana de Ouricuri, Ana Leopoldina dos Santos – ou simplesmente Dona Ana – sempre teve no barro o seu instrumento de trabalho e de expressão artística. Direto do Sertão do Araripe, foi em Petrolina que a “Dama do Barro” fez história.
O dom para o artesanato foi herdado de sua mãe, assim como foi repassado para as filhas, que hoje dão continuidade ao seu trabalho. Especialista na produção de panelas e outros utensílios de cerâmica, Ana ganhou as manchetes nacionais e internacionais quando passou a produzir as carrancas, esculturas que são colocadas nas proas dos barcos para espantar os maus espíritos do rio.
O mais curioso é que todas as suas peças – de argila – possuem os olhos vazados, uma homenagem ao seu marido, deficiente visual. A obra peculiar da artista se espalhou pelas feiras e exposições do mundo inteiro.
Em 2006, a Dama do Barro recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Também ganhou uma biografia escrita pelo jornalista Emmanuel Andrade. Faleceu dois anos depois, aos 85 anos. Quem teve a oportunidade de conviver com essa petrolinense de coração, sabe como era encantadora sua delicadeza com o barro. Seu sorriso permanecerá sempre vivo em sua arte, que ela mesmo fez questão de eternizar: “Quando Jesus me chamar, espero estar preparada para viajar. Mas onde encontrarem o caco de uma orelha de barro, digam, ao menos, que Ana passou por aqui e deixou saudades”, dizia. (Foto: reprodução)