A rotina do paraciclista petrolinense José Nildo de Souza, 42 anos, não é nada fácil. Todos os dias ele se submete a cerca de uma hora e meia de treinos, em busca de um sonho: participar pela primeira vez de uma competição em nível nacional, e fazer bonito. A oportunidade acontecerá no final deste mês (22 a 24), na cidade do Rio de Janeiro, que sediará a 4ª Copa Brasil de Paraciclismo.
A prova será realizada em cinco categorias – da C1 a C5, de acordo com o tipo de deficiência dos paratletas. José Nildo irá competir na C4. Os desafios, até lá, são vários. O primeiro deles é conciliar a vida de desportista com a de agente comunitário de saúde e de professor (as duas profissões pelas quais tira seu ‘ganha-pão’).
“Treino das cinco da manhã às 6h30, depois vou trabalhar. À noite, pedalo mais uma hora, das 18h às 19h. E depois que dou aula, às vezes também pedalo depois das 21h30”, informou. Morador do N-8 do perímetro Senador Nilo Coelho, ele costuma percorrer a distância entre sua comunidade e a agrovila do C-1. Também chega a pedalar em direção ao distrito de Rajada, e retorna. O ritmo varia entre 32km/h e 40km/h – média dos paraciclistas de sua categoria.
Até aí, tudo bem. O problema é que José Nildo treina numa bicicleta de alumínio, tamanho 52, inadequada para sua altura. Aos 3 anos de idade, ele sofreu uma paralisia que durou até os sete. Depois passou por uma cirurgia, melhorando em parte o seu quadro, mas o petrolinense ficou com uma deficiência que entortou excessivamente suas pernas. O ideal, portanto, seria uma bicicleta menor. Com muito esforço – e sem apoio de nenhum patrocínio – o paratleta conseguiu comprar o seu ‘material de trabalho’, que veio dos Estados Unidos.
A bicicleta importada, compatível com sua altura, custou R$ 1,5 mil e chegou no final de setembro. Para retirá-la dos Correios precisou mobilizar os amigos, por meio de campanha nas redes sociais, como o Facebook. Foi por aí também que conseguiu do seu cunhado a passagem de ida para o Rio. Mas precisa também a da volta. Para arrecadar o necessário, Josenildo promoveu a rifa de uma cesta de chocolate e conseguiu, junto ao Clube de Ciclismo da cidade, a realização de uma prova beneficente, marcada para o próximo dia 17. “A gente não desiste porque gosta do esporte, mas as dificuldades são muito grandes”, lamenta.
Vencedor
Mas a força de vontade digna de um vencedor não deixa o petrolinense esmorecer. Envolvido no esporte há apenas cinco anos, Josenildo já coleciona boas participações em competições regionais na Bahia e Pernambuco. Apesar de um sério problema nas pernas, em 2012, que o deixou ‘de molho’ por quase um ano, ele pensa grande. A meta é ficar entre os três primeiros na 4ª Copa Brasil para, quem sabe, seguir o mesmo caminho de um paraciclista de Juazeiro – o qual, sem apoio na região, conseguiu patrocínio da Prefeitura de Sento-Sé (BA) e hoje compete pela equipe de São José dos Campos (SP). E não é só. Josenildo quer conquistar boas colocações que o garantam para o mundial de paraciclismo em 2014.