Pequenos produtores de Sobradinho sofrem com falta d’água

por Carlos Britto // 23 de fevereiro de 2015 às 17:05

canal irrigação sobradinhoSe não houver nenhuma providência de imediato diante da falta d’água que atinge mais de 50 famílias que utilizam a água do Canal da Serra da Batateira, em Sobradinho, norte da Bahia, os prejuízos serão incalculáveis. A constatação, já feita por especialistas e orgãos governamentais da região, foi ratificada pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA). Segundo a entidadem há produtor que há mais de 20 dias não consegue molhar sua plantação. O problema que vem se agravando muito nos últimos quatro anos e chegou ao seu limite em 2015 com a baixa do Lago de Sobradinho, o qual abastece o canal e hoje está com cerca de 16% de sua capacidade.

A comunidade de Terra Nossa, onde moram 22 famílias que irrigam suas roças com a água do canal, é a mais afetada com o problema, segundo o agricultor José Carlos de Souza. Ele diz que já perdeu toda sua safra de goiaba e maracujá, e se os pés de manga vierem a morrer, seu prejuízo passará de R$ 100 mil. A mesma situação é vivida pelo produtor Raimundo José, que já perdeu um hectare inteiro de goiaba pronta para colheita. Ambos lembram que se os irrigantes que ficam mais próximo do Lago de Sobradinho desligassem suas bombas de irrigação ao menos nos finais de semana (como já foi sugerido), a situação estaria mais tranquila. Porém, tanto Souza como Raimundo são enfáticos em dizer que o problema está sendo informado as autoridades locais, mas que ainda não apresentam qualquer sugestão.

produtor rural sobradinhoEnquanto a solução não vem e a plantação morre de sede, os agricultores apelam aos governos municipal, estadual e até federal – por meio do Ministério da Integração Nacional ou da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) – para que esses trabalhem em conjunto em favor das famílias não só da Terra Nossa, como também da região de Fonte Viva e da Aldeia Truká, que também sofrem com o problema. Souza diz que se o canal, que também fornece água para a Empresa Municipal de Saneamento (Emsae), responsável pelo abastecimento público da cidade de Sobradinho, tivesse uma estrutura para operar quando o lago tivesse com o nível tão baixo como agora, a situação poderia ser diferente. Ele acredita que é possível ampliar a vazão de água que cai no canal por meio de bombas mais potentes. “Nos agricultores não podemos irrigar só com o resto de água que a Emsae usa para abastecer Sobradinho”, diz o produtor.

Água de beber

Como se não bastasse o prejuízo com a perda da produção, a situação torna-se ainda mais gritante com a falta d’água para o consumo humano, lembra a produtora Maria das Dores da Silva, ao afirmar que os carros-pipas fornecidos pela prefeitura também não estão distribuindo água nesse momento porque estão priorizando as comunidades mais distantes. Isso faz com que algumas famílias se obriguem a comprar água dos donos de carros-pipa, e que, enquanto as soluções não chegam, as famílias desta localidade tão próxima da Barragem de Sobradinho estão sem água até para beber.

Falta gestão da água do São Francisco

A chamada crise hídrica vem afetando todo o país. O problema de acesso à água, que antes era visto como algo comum à região semiárida, agora estende-se para outras regiões do Brasil. A raíz de tudo isso, contudo, não está apenas na escassez de chuvas, mas sim na ausência ou má gestão das águas.

O Rio São Francisco serve hoje a diversos usos, dentre eles a irrigação. Esta problemática pela qual passam as famílias agricultoras da região de Sobradinho é apenas um exemplo do quanto é urgente uma ação mais incisiva de controle do uso da água do rio. A baixa da vazão do lago atende especialmente ao setor elétrico, trata-se de uma iniciativa da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), com autorização da Agência Nacional de Águas (ANA), com vistas a garantir a geração de energia, porém sem considerar os demais usos que ficam prejudicados, principalmente os pequenos usuários, a exemplo de agricultores familiares, pescadores, barqueiros, entre outros.

De acordo com a Articulação Popular São Francisco Vivo, ou se rever as outorgas de águas existentes e limita a concessão de novas ou a situação do Velho Chico tende a piorar. (fotos: IRPAA/divulgação)

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