Petrolina empobrece politicamente

por Carlos Britto // 13 de junho de 2011 às 06:00

Petrolina ficou conhecida e reconhecida, através da frase antológica do Monsenhor Angelo Samapaio, como “A Terra dos Impossíveis” pelas possibilidades de ser grande, de pensar grande, de buscar e realizar.

A frase, que não deveria ser aplicada a utopia ou a provincianismos, teima em vir à tona em momentos dantescos.

Esta semana, às vésperas da tradicional Jecana da cidade, a luta do radialista Carlos Augusto para realizar a festa foi usada como trampolim político sem o menor constrangimento.

Buscando receber o patrocínio do governo do Estado de Pernambuco, Carlos Augusto revelava apreensão com a demora da liberação. Imediatamente o deputado Estadual Adalberto Cavalcanti, vai às rádios, e como um ‘Robin Hood’ pós-moderno, oferece um cheque pessoal seu (no valor de R$ 40 mil) como garantia, caso o governador não honrasse com a palavra.

O prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio (PMDB) também saca sua frase de efeito e dispara heroicamente: “Se o Governo do Estado não pagar o que prometeu eu pago o dobro o valor”.

Vamos aos fatos:

Pegou mal para o deputado Adalberto Cavalcanti garantir pelo governador. Primeiro porque o governo do estado diz que paga por evento que aconteceu, e não por antecipação.

Depois, quando o deputado mostra sua força financeira parece esquecer os preceitos básicos da boa etiqueta em uma exposição desnecessária.

Aliás, só se deve ser aliado de quem acreditamos que cumpre palavra e só essa palavra deveria valer. Ao menos pra quem é aliado de luta e de fé.

Será mesmo que o governador do estado precisa que um deputado estadual dê um cheque pessoal para que ele cumpra a palavra?

Já o prefeito agora vive devolvendo a afronta que recebeu do governador, expondo uma ferida que, parece, não cicatrizou.

Quando diz que dobra o valor do patrocínio sem qualquer critério, fala com verdade e convicção, afinal o dinheiro é nosso e não dele e, sendo assim, é fácil demais atirar com a pólvora dos outros. Ou seja, o nosso dinheiro.

Por outro lado, o que esperamos são ações eficientes e uma cidade mais bem cuidada do que o que vemos por aqui.

Bravatas e frases de efeitos seriam aceitas se a saúde funcionasse, se os buracos não existissem, se as praças e monumentos não estivessem largados e se a cidade não tivesse o aspecto de abandono que tem.

Uma administração que não licitou nem o lixo e nem a merenda escolar não pode ser exemplo de organização para nada nem pra ninguém.

O que fica mesmo é a luta de um radialista que promove uma festa grandiosa que, diga-se de passagem, deveria ser realizada pelo estado e pelo município, mas é feita por um homem que corre para que dê certo, que gere alegria, receita para uma gente que precisa e que tem ainda que aguentar ser usado como massa de manobra para quem quer apenas voto e reconhecimento.

Petrolina sempre contou com representantes comprometidos e com projetos e aspirações para o coletivo, de diversos partidos. Era a política com classe.

Hoje, ou a política mudou ou os personagens não têm o cacife para que sejam escalados como atores principais.

É isso aí.