Professor da Univasf desabafa após agressão de PM em Juazeiro: “Será se eu fui a primeira pessoa a levar um tapa dele?”

por Carlos Britto // 30 de novembro de 2015 às 19:02

nilton professor

O dia 28 de novembro de 2015 jamais será esquecido pelo professor doutor Nilton de Almeida Araújo, de 37 anos. Ele, que trabalha na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), afirma ter sido agredido por um policial militar no bairro Alto do Cruzeiro, onde reside.

Nilton contou ao Blog que a agressão aconteceu por volta das 10h, quando saía de casa para ir ao dentista. “Foi tudo muito rápido, sem razão, desproporcional. Eles [policiais] caminhavam pela rua quando me pediram para parar, momento em que desci da moto e eles me revistaram. Eu, já com as mãos na cabeça, tentei explicar que sou trabalhador, mas nem deu tempo, pois um deles disse que eu estava desacatando. Então, deu um tapa na minha cara e disse ‘algema!’”, contou.

O professor disse que sua moto tem um brasão da Univasf, com o nome ‘servidor’, mas não adiantou. “Mesmo depois do tapa, eu tentei explicar que era servidor da Univasf, mas eles não quiseram saber. Minha moto tem um brasão da universidade, com o nome servidor. Também tinha meu contracheque dentro da minha mochila. Jamais pensei que fosse passar por isso a poucos metros da minha casa. Fiquei sem possibilidade de esclarecer”, pontuo Nilton, informando que sua moto está com a documentação em dia, mas que até a tarde de hoje (30) não tinha conseguido retirar a mesma do pátio do Departamento Estadual de Trânsito da Bahia (Detran-BA) em Juazeiro.

Segundo Nilton, os outros três policiais pareciam não concordar com a ação do colega. “Os outros policiais me trataram normal, inclusive um deles estava meio constrangido. Ninguém merece um tapa na cara. Se eu tivesse desacatado, até aceitaria, mas a resposta não deveria ser esta”, frisou o professor de História, que é natural de Feira de Santana (BA), mas mora em Juazeiro há seis anos.

Após ser levado para Delegacia de Polícia Civil, ele disse que foi assinado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). Lá, de acordo com ele, o policial voltou a afirmar que tinha sido desacatado por ele.

Família

Perguntado sobre como sua família reagiu ao saber do ocorrido, Nilton disse que já conseguiu tranquilizá-los. “Eles estão tranquilos, eu deixei todos cientes do ocorrido. A família de minha esposa também está tranquila, recebi muito apoio de todos eles.

Nilton não escondeu a angústia e ressaltou que isso jamais será esquecido. “Isso jamais será apagado. Meu filho, quando crescer, se for procurar na internet, vai saber o que aconteceu com o pai, que o pai foi agredido. Isso não tem jeito, de alguma maneira vai afetar minha vida para a vida toda, porque a história não se apaga”, lamentou.

Preconceito racial?

Questionado se sentiu que houve preconceito racial na ação dos policiais por ele ser negro, o professor Nilton não falou que sim, nem que não, mas fez um questionamento. “Será se eu fui a primeira pessoa a levar um tapa dele [do policial]? Será se eu vou seu o último?  Quais as chances de uma pessoa branca ser tratada como eu fui tratado?”, questionou. “Isso precisa ser investigado a fundo, e eu já conversei com meu advogado e vamos acionar a Justiça”, acrescenta.

Ele também falou do apoio que tem recebido das pessoas – muitas delas desconhecidas. “Quem está me apoiando está fortalecendo os direitos do povo negro. Ficarei mais feliz que isso não seja só para com minha pessoa, mas para todas as pessoas. Temos muito ainda para evoluir, mas a classe negra está se consolidando. Estou aqui pelo suporte e apoio de uma série de pessoas”, informou, relatando que é militante desde os 10 anos de idade, integra o movimento negro na região e coordena ‘O Mês das Consciências Negras’.

Investigação

O tenente Coronel Carlos Alberto Neves, chefe do Comando de Policiamento Regional Norte (CPRN), disse ter lamentado o fato. Ele informou que o caso está sendo investigado e que Nilton será convidado para dar sua versão.

O Comando Regional já está apurando o caso. E nossa atitude é mandar apurar para saber o que aconteceu. Se aconteceu, como está sendo divulgado, a gente lamenta, pois trata-se de um policial que não tem treinamento e capacidade para lidar com o cidadão. Ele [Nilton] já está sendo convidado para ser ouvido na Companhia. Eu ainda não tenho o nome dos policiais, mas vamos acompanhar o caso”, disse o coronel, colocando-se para quais quer outros esclarecimentos.

Repúdio

O reitor da Univasf, Julianeli Tolentino, em nota, repudiou o ocorrido com o professor Nilton. “a Univasf considera inaceitável a agressão a um ser humano, que independentemente da cor da pele, deve ter seus direitos respeitados e não pode ser alvo de qualquer tipo de violência ou de preconceito. O professor Nilton de Almeida é um dos representantes do movimento negro na região e é o organizador do Mês das Consciências Negras da Univasf”, alfinetou.

O presidente do Conselho Estadual de Cultura, Márcio Ângelo Ribeiro, enviou hoje uma carta ao secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, solicitando que o caso seja apurado. A carta do presidente pode ser conferida acessando aqui. O mesmo documento foi encaminhado ao comando da Polícia Militar da Bahia (PMBA), à Casa Civil e entidades ligadas aos direitos humanos e atividades docentes. (foto/arquivo pessoal)

Professor da Univasf desabafa após agressão de PM em Juazeiro: “Será se eu fui a primeira pessoa a levar um tapa dele?”

  1. ZULMA GOMES DE CARVALHO disse:

    BRITTO: deixo aqui registrado o meu repúdio ao tratamento dado ao Professor Doutor Nilton de Almeida. ALMAS NÃO TÊM COR e, de acordo com a Lei, até prova em contrário “TODO CIDADÃO É INOCENTE”. Infelizmente, vivemos num país no qual, muitos servidores públicos se olvidam de que é o cidadão quem paga os seus salários, sendo eles, então, nossos empregados. Faltam os valores da educação, do respeito e da isenção, agravados pela sensação de poder do distintivo e DA ARMA que certas (erradas) pseudo-autoridades assumem no exercício das suas funções e que os transformam, muitas vezes em elementos tão bandidos quanto os reais bandidos que estão sendo perseguidos. EXISTE UMA TOTAL INVERSÃO DE VALORES NESTE NOSSO PAÍS SEM JUÍZO E SEM VERGONHA.
    PROFESSOR NILTON, USE O PODER DA LEI CONTRA ESSE ABUSO! NOSSA JUSTIÇA É MOROSA, MAS É A ELA QUE AS PESSOAS DE BEM RECORREM. TENHA FÉ QUE CEDO OU TARDE, OS VENTOS SOPRARÃO A SEU FAVOR.

  2. marivaldo disse:

    Dois fatos chamam a atenção. 1. Bater na cara de um cidadão. Quem bate sabe as consequências, senao tivet proteção. 2. O representante da pm dizer que o cidadão será convidado a depor e que nao sabe nome dos envolvidos. Aí reside a intimidação e que nada será feito. Triste Bahia. Até quando essa prepotência policial? Mude da Bahia rapaz. Transformou se em terra sem lei.

  3. Filósofo disse:

    A polícia, tanto a civil como a militar, ainda atua igualmente como na época da ditadura militar, pouca coisa mudou, principalmente quando a vitima é homem e pobre. Não é contra só esse professor, basta ver o que ocorreu no caso da escrivã. A PM em vez de algemar a agressora, não, fez isso com a vítima. Eu no lugar dos dois, processava os respectivos Estados em danos morais, independente de uma queixa crime na polícia civil e no Ministério Público!

  4. Snoop disse:

    Raça não tem nada a ver. Se houve excesso, que seja apurado. O policial que o conduziu também era negro. Ao invocar questões raciais no caso, parece que o professor, que leciona história escravista na Unifasf, o faz como meio de se promover e de promover a própria causa.
    Lamentável também a atitude tanto da Univasf quanto do CPRN, que emitem juízos sobre seus respectivos servidores sem antes procurar ouvir o outro lado da história.

  5. jorge disse:

    esse professor ta querendo mídia assim como muitos que estão lá. primeiro o policial envolvido no fato também é negro então não foi racismo, segundo pelo relato dele ele queria ser liberado sem o documento da moto só mostrando que era servidor da univas ser servidor da unisvasf é requisito pra ser iberado estando errado se for assim vou adesivar meu carro e minha moto e com a logomarca da minha empresa e estar tudo certo posso andar sem o documento. me deixe viu seu Nivaldo você não é melhor e nem pior que ninguém pra querer andar errado so pq é professor da univasf. infelizmente estar dificl pra pm trabalhar pq se aborda um negro é racismo,homosexual é homofobia.. ai fica dificl.. seu professor não venha fazer politica com isso.. eu canso de ser parado em blitz e não acho ruim pelo contrario se pudesse teria uma em cada esquina.. não estar escrito na testa vagabundo ou cidadão

  6. Flor disse:

    Professor Nivaldo, vai procurar andar certinho, assim não havia excesso da sua parte men dos policiais.. Direitos são iguais para todos. Toda e qual quer pessoa que não andar com documentação da moto por lei tem que ser apreendido, Por que vc queria ser liberado SÓ PQ É PROFESSOR DA UNIVASF? Desacatado os policitais, Toda Ação tem reação . Vc é professor tem quer dar exemplos bons e não Ruins!

    – O Policial mostrou desequilíbrio com essa situação . Mas tudo começou com ação do Sr. Professor .

  7. José Severiano Neto disse:

    Professor você não melhor nem pior que ninguém cumpra a lei, a lei não é só pobre também é pra vc, desrespeitar policiais por quê é professor? Parabéns policiais cumpram a lei doa a quem doer, seja ele médico professor negro ou branco amarelo ou verde! Com certeza ele queria um tratamento diferenciado queria ser liberado por ser professor da Univasf!!!!

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