O cenário político-eleitoral de 2018 não deverá abrir um horizonte positivo para o Brasil, em relação ao futuro. Pelo menos esse é o esboço traçado pelo filósofo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Michel Zaidan Filho. E conhecimento não lhe falta para afirmar o que prevê.

Graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco em 1974, Zaidan Filho também possui mestrado em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 1982, e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), em 1986). Atualmente é professor-Titular do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE. Tem experiência na área de História e Ciências Sociais, com ênfase em Teoria e Filosofia da História e Teoria Política, atuando principalmente nas seguintes especialidades: teorias da democracia; Comunismo, Política, Brasil, Democracia e Política.

Com todo esse currículo na bagagem, Zaidan Filho testemunhou outros momentos turbulentos na vida do país. Exatamente por isso se mostra pessimista com o atual governo, o qual considera anti-aristotélico, ou seja, “ruim e injusto”.

De passagem por Petrolina, onde foi o principal convidado do Ciclo IBB de Palestras, promovido pela unidade local do Instituto Betel do Brasil, o professor afirma que a preocupação dos seus compatriotas, por toda parte do país, é saber o que vai acontecer no ano que vem, a pouco menos de um ano das eleições. Segundo Zaidan Filho, “as coisas não estão nem um pouco claras”. O professor também faz críticas ácidas ao Governo Temer e vê um quadro “confuso” em Pernambuco para 2018.

Monarquia

“Acho que os brasileiros não se identificam muito com o Estado brasileiro. Há quem diga que temos uma nostalgia da monarquia, porque as pessoas se identificam muito com a figura do imperador, que era visto como um ‘pai’ dos seus súditos, que seria capaz de dar a vida se fosse preciso, e também não precisava de voto. Mas a República inaugurou um outro estilo de política muito identificado com a farda. Você veja que começou tudo com um golpe militar, no Campo de Santana. Então, muita gente tem nostalgia da monarquia porque a República já nasceu conspurcada desde o berço. Ela já tem essa coisa ruim da farda, do militarismo. Eu poderia acrescentar mais: da corrupção, da falta de pudor e de princípios éticos na nossa política. A nossa política republicana não é exemplo propriamente de uma boa política, não”.

Viabilidade do Parlamentarismo

“O regime parlamentarista pressupõe uma estrutura político-partidária sólida. Não de partidos fisiológicos, clientelistas, fantasmagóricos ou de aluguel, como esses que a gente vê. Se outros fossem os partidos políticos no Brasil, se fossem mais institucionalizados e não personalizados, o parlamentarismo teria muito a ver, porque temos mais de 34 partidos. Mas os partidos que nós temos não valem um vintém. E não são os pequenos. São os grandes partidos que não prestam, porque não respeitam sequer o próprio programa. Eles não têm unidade, nem liderança”.

Governo Temer

“Não se sabe nem se esse sujeito acaba o mandato. Mas vamos supor que ele acabe sendo apeado da cadeira presidencial. Quem a ocupa é o presidente da Câmara. Você sabe quem é o presidente da Câmara? O genro de Moreira Franco, que é um deles (Rodrigo Maia, que também está sendo investigado). Então não muda muito, porque ele vai usar como poder o período que ele vai ter em benefício dele e dos seus”.

DEM

“Era um partido terminal, que de uma hora para outra voltou à cena. Presidente da Câmara, ministérios importantes como o da Educação, que está nas mãos de um avicultor de Belo Jardim (Mendonça Filho), e por ser candidato ao Governo de Pernambuco usa e abusa do Ministério como palanque eleitoral. Ele usa mesmo a Educação como moeda de troca. Ele já fazia isso na Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco quando o PFL era governo”.

Governo de Pernambuco

“Nosso Estado é governado por uma oligarquia familiar, cuja cabeça é a viúva (de Eduardo Campos, Renata Campos), que é mais autoritária do que era o marido, e a primeira avó (Ana Arraes), que também apita. Você já deve ter visto que a viúva aparece em todos os atos administrativos do governo. É uma obrigação. Ela e os filhos, que estão muito bem empregados sim senhor. Um na secretaria do governo, o outro na prefeitura porque perderam a pensão, já que ficaram de maior idade. Com a morte de Eduardo, que era um líder, não há uma pessoa que substitua o carisma, o prestígio que ele tinha. Então, quem quer que seja o nome que vá para essa sucessão, não será uma coisa indolor. Vai ter disputa interna a briga. A primeira já aconteceu com o irmão (de Eduardo, Antônio Campos), que saiu ‘atirando’. Ora se fala no nome do prefeito (do Recife, Geraldo Julio), ora se fala no Secretário de Turismo, Felipe Carreras. Um sinal foi a passagem de Fernando Haddad pelo Recife, convidando ele para um possível plano B, caso Lula não seja o candidato (a presidente). Então seria Fernando Haddad e ele (Paulo Câmara) na vice. Essa é uma hipótese que afastaria ele da eleição estadual aqui, porque ele como governador é candidato natural. Mesmo (o PSB) enfrentando oposição do nacional, porque o (PSB) nacional está ‘assim’ com o PSDB. O vice-presidente nacional do PSB é o vice de Geraldo Alkmin em São Paulo. Se Alkmin sair (candidato a presidente), quem assume é ele”.

Paulo Câmara

“Muitas pesquisas de viabilidade eleitoral serão feitas daqui para o ano que vem, porque a avaliação desse governador é ruim. Ele é muito ruim mesmo. Ele é uma pessoa autoritária. Ele resolve os problemas com processo contra A, B, C. É assim que ele resolve o problema. Ele não tem jogo de cintura nem tino administrativo. Ele é um auditor da Secretaria da Fazenda, convidado por Eduardo. Ele não é político. Tem feito um trabalho de elefante numa loja de louças, como se diz. Pode até ser bem-intencionado, mas é muito desastrado e tem feito uma gestão ruim. Pernambuco está virando campeão na insegurança e na violência no Brasil. O que restava de Pacto pela Vida está pra se acabar”.

Ex-Frente Popular

O palanque que Eduardo reuniu acabou-se. Porque Mendoncinha é candidato, e pode ser que, com a entrada de Fernando Bezerra no PMDB, e como Jarbas foi suspenso pelo partido, é possível que o PMDB apresente candidato. O PSDB provavelmente também lance candidatura, pelo menos pra retirar, como faz. O PT, cogita-se que Marília Arraes seria a bola da vez, a estrela em ascensão. O PSOL deve lançar candidatura própria e não quer conversa com o PT, até pra ter presença na política também. O PTB, esse vem com Armando Monteiro, que já está em campanha, lascando o pau em cima do governador. É um candidato complicado. Você sabe que ele votou a favor da ‘PEC da Morte’ e da Reforma Trabalhista. Vai ser muito difícil, por exemplo, que o eleitorado de centro-esquerda vá votar numa criatura dessa, mesmo ele contra Paulo Câmara. E se houver algum movimento de aproximação do PT com o PSB, a coisa muda muito de figura. Aí Armando Monteiro vai ficar com quem? com os prefeitos que ele tem no Interior? Mas o PSB tem bem mais prefeituras. Paulo Câmara tirou dinheiro da Secretaria de Educação para distribuir com os prefeitos. E não é de graça. Como Marília também denunciou que estavam usando o Tribunal de Contas pra ameaçar os prefeitos do Interior na questão da prestação de contas. Se não o apoiassem, criariam dificuldades. Então, essa política de Pernambuco é um complicador. Quem vai ser o candidato com chances de ganhar a eleição, sinceramente não sei, porque o desgaste de Paulo Câmara é grande”.