Salgueiro: Tradicional Bicharada do Mestre Jaime invade as ruas fazendo paródia sobre coronavírus

por Carlos Britto // 25 de fevereiro de 2020 às 16:14

Foto: divulgação

Já se vão cerca de 70 anos de folia e a tradicional Bicharada do Mestre Jaime, mesmo com as mudanças ocorridas nos aspectos da cultura popular se mantém firme no carnaval do Interior de Pernambuco. Símbolo da folia de Salgueiro, no Sertão Central, a Bicharada do Mestre Jaime repete a dose a cada ano. No último domingo (23) a agremiação já contagiou os foliões pelas ruas e avenidas da cidade. Hoje (25), último dia de festejos, promete repetir a dose a partir das 17h. Os bonecos gigantes multicoloridos, as fantasias e a irreverência vão tomar conta dos foliões, ao som das marchinhas e frevos.

Aos 97 anos, o criador da troça há mais de meio século que já foi homenageado pelo governo do Estado no Galo da Madrugada e levou seus bonecos para Recife, Olinda, Petrolina e Belém do São Francisco, Jaime Alves Concerva desfilará em um carro alegórico especial e adaptado. O produtor cultural, organizador do desfile, o artista plástica e filho do mestre, Jaime Alves Concerva Filho, adianta que este ano o mestre será paramentado na figura de um inseto “gigante”, sendo uma muriçoca, como referência a um bloco da cidade chamado de Os Insetos, e ao mesmo tempo servirá de paródia e brincadeira.

Quando se aproxima a folia, até dois meses antes, ele mostra que sua ansiedade é total. Apesar das limitações físicas, a saúde e a cabeça dele são boas. Esse ano ele vai sair em uma muriçoca, para mostrar que se tem o coronavírus lá, aqui tem o vírus da folia”, observa Jaime Filho. Diante da ansiedade e o desejo de manter a tradição, Jaiminho conta que, a cada ano, está sendo mais difícil botar a Bicharada nas ruas devido vários fatores de administração e falta de apoio, porque há custos com material e contratação de pessoas para carregar os bonecos. “Até os bonequeiros estão desaparecendo”, lamenta.

Foto: divulgação

 Patrimônio

Para o jornalista e professor universitário Emanuel Andrade, pesquisador de cultura popular e prestes a escrever um livro sobre a trajetória carnavalesca e boêmia do mestre, a Bicharada ultrapassou as barreiras das mudanças ocorridas em pouco mais de meio século sem perder a garra, a dedicação e a originalidade dentro da festa mais popular do país. “Ele precisa ser patrimônio em vida e as gerações futuras manter essa tradição que não é lenda, mas um fato cultural que se deu no carnaval do sertão bem antes de Olinda atrair seus bonecos gigantes”, ressalta.

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