Pacientes cardíacos de várias cidades da região que precisam de atendimento e recorrem à Unidade de Pronto Atendimento e Atenção Especializada (UPAE) de Petrolina para serem encaminhados ao Hospital Memorial podem ter complicações de saúde devido a uma ‘quebra de fluxo’ entre as duas unidades. O atendimento no Memorial é feito através de convênio com o Serviço Único de Saúde (SUS).
Segundo denúncias, os médicos da UPAE estariam impedidos de encaminhar pacientes cardíacos para realizar cateterismo (ou outros procedimentos de emergência) no Hospital Memorial, se não houver vagas para interná-los. Tudo teria ocorrido após um suposto desentendimento entre a coordenação médica da UPAE e a equipe médica do hospital.
De acordo com informações, por conta da grande demanda e o Memorial ter poucos leitos, a equipe médica do hospital teria estabelecido uma regra: fazer os procedimentos de emergência e enviar os pacientes de volta para UPAE, para serem acompanhados durante 24 horas ou até surgir vagas. No entanto, a coordenação médica da UPAE teria se negado a receber os pacientes de volta, cortando o fluxo entre a Unidade e o Hospital.
Perigo
Os próprios médicos do Memorial informaram a este Blog que o rompimento desse ciclo pode causar a morte de muitos pacientes, uma vez que é de suma importância o cateterismo e angioplastia em pessoas infartadas. Eles também disseram que 50% dos pacientes infartados morrem em até duas horas, caso não sejam tratados. Também é possível que o paciente fique com sequelas devido à demora no atendimento.
O suposto desentendimento entre as equipes das duas unidades de saúde ainda teria ocasionado a demissão de um profissional da UPAE. No último dia 25 de novembro, o clínico geral, que preferiu não expor sua identidade, contou a este Blog que enviou uma paciente para fazer cateterismo. Após o procedimento, o Memorial informou que a paciente precisava de uma cirurgia, mas o hospital estava sem leito disponível, e pediu à UPAE para recolhê-la até surgir uma vaga ou encontrar outra unidade para fazer a cirurgia. Esse processo já vinha acontecendo há bastante tempo, segundo ele.
O clínico geral teria informado o caso à coordenação médica da UPAE, que teria dito que esse fluxo (de volta) não seria possível. O médico da UPAE teria questionado que estava no regulamento da unidade, mas a coordenação teria rebatido e dito que isso não iria acontecer. O médico da UPAE, então, teria sugerido ao coordenador ligar para um dos médicos do Memorial para resolver o caso. No dia 29 de novembro, ele foi chamado pela coordenação, que o demitiu. Para demiti-lo, a coordenação teria alegado que “foi uma questão de perfil de serviço”, contou o profissional, que estava há dois anos nos quadros da UPAE.
Respostas
A reportagem do Blog entrou em contato com a assessoria de comunicação da UPAE, que enviou nota de esclarecimento sobre o assunto. “A Unidade de Pronto Atendimento e Atenção Especializada de Petrolina (UPAE/imip) esclarece que, enquanto estabelecimento de saúde pré-hospitalar, recebe demanda espontânea de urgência e emergência, prestando o primeiro atendimento clínico aos pacientes. Após estabilização do quadro clínico, a vaga hospitalar é solicitada junto à Central de Regulação Interestadual de Leitos (CRIL)”, explica.
Ainda na nota, a UPAE diz: “como unidade solicitante, não nos cabe receber pacientes oriundos de serviços de saúde de maior complexidade, pois não somos unidade hospitalar e não realizamos internamento. Assim como não possuímos Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para dar suporte aos pacientes que passam por procedimentos de alta complexidade, como o cateterismo cardíaco.”
A Unidade ainda destaca que “de acordo com a Portaria nº 342, de 4 de março de 2013, do Ministério da Saúde, unidades de saúde como a UPA 24h são obrigadas a contrareferenciar o paciente que necessite de atendimento de alta complexidade para outro serviço de atenção integrante da Rede de Urgência e Emergência, proporcionando continuidade ao tratamento com impacto positivo ao quadro de saúde individual”, frisa. “Quanto ao caso do médico que foi desligado da UPAE, a Unidade esclarece que os motivos foram anteriores e alheios ao fato em questão”, finaliza a nota.
O Blog voltou a questionar a equipe do Memorial, a qual disse que a explicação da UPAE é uma norma da Secretaria de Saúde de Pernambuco. Porém, é questão de “bom senso” o envio dos pacientes para serem tratados e encaminhados de volta, pois o serviço já vinha sendo realizado há muito tempo e “funcionando perfeitamente”. Para solucionar o caso, o Memorial vai tentar um novo contato com a UPAE e também com a Secretaria de Saúde do Estado.